mother comforting crying daughterPhoto by Photo By: Kaboompics.com on <a href="https://www.pexels.com/photo/mother-comforting-crying-daughter-6134926/" rel="nofollow">Pexels.com</a>

Ana Eliza tinha apenas 18 dias de vida quando faleceu aguardando na fila de espera por uma cirurgia no coração. No Tocantins, o único hospital público que realiza o procedimento em recém-nascidos está localizado em Araguaína, na região norte do estado, o que dificulta o acesso de pacientes. Diante da situação, a Defensoria Pública solicitou que o Ministério Público abra uma investigação sobre essa e outras mortes consideradas evitáveis.

Internação e Morte de Ana Eliza

Após ser diagnosticada com um problema cardíaco, a família levou a bebê para Araguaína, onde o procedimento seria feito no Hospital Municipal de Araguaína. No entanto, ao chegarem à unidade, oito dias se passaram sem atendimento, e a bebê não resistiu.

Geovanna Cândida de Souza, mãe de Ana Eliza, chorou ao lembrar da morte da filha e não conseguiu falar sobre a perda.
“Desde que soube que estava grávida da Ana Eliza teve… Dou conta não moça [de falar]”, disse a mãe durante entrevista à TV Anhanguera.

Posicionamento da Secretaria Estadual de Saúde

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, em nota, que o procedimento cirúrgico foi adiado por razões clínicas justificadas, com o objetivo de melhorar o quadro clínico da criança. A pasta lamentou a morte da recém-nascida.

O Ministério Público do Tocantins (MPTO), por sua vez, comunicou que está analisando a representação da Defensoria Pública para adotar providências sobre o caso.

Outros Bebês Também Aguardam Cirurgias

A incerteza quanto à realização de cirurgias cardíacas em bebês também é motivo de angústia para outras famílias. Evely Iasmim, grávida de gêmeas, está internada no Hospital e Maternidade Dona Regina, em Palmas, aguardando transferência para um hospital particular de Araguaína, onde suas filhas precisarão de procedimentos urgentes após o parto.

“Uma tem [cirurgia] para fazer do coração esquerdo, que é um problema muito sério, muito grave e não posso ter elas aqui [Palmas], não há suporte para operar o coraçãozinho dela.
E a outra tem uma abertura na coluna que precisa ser feita uma cirurgia também […]
Não é fácil a gente gerar um filho até o final e ver acontecer o pior”, contou Evely.

A avó das crianças, Susiane Silva de Castro, também expressou preocupação:

“O médico já falou que se nascer aqui no hospital, principalmente a do coração, vai a óbito se não fizer a cirurgia.
É um risco a cirurgia? Sim, corre risco, mas nós queremos fazer a tentativa, porque enquanto há chance de vida há esperança.”

Motivos do Atraso na Transferência

Segundo a SES, a transferência de Evely foi adiada após avaliação da equipe reguladora, levando em conta o quadro clínico dela e o suporte necessário para os bebês antes do deslocamento. Uma reavaliação sistemática será realizada para definir as próximas condutas assistenciais.

Defensoria Pede Investigação por Mortes Evitáveis

O defensor público Artur Pádua apontou que os pedidos de urgência das famílias enfrentam morosidade no processo legal.

“Infelizmente, hoje o Tocantins é um quadro grave. As famílias procuram a defensoria com urgência, muitas vezes tarde.
A defensoria ajuíza a ação e o judiciário dá um despacho para poder esperar o executivo dar uma resposta que já tá no processo.
E muitas dessas crianças vêm a óbito.”

Além das mortes de bebês, a Defensoria Pública citou três óbitos de adultos com diferentes problemas de saúde e solicitou ao Procurador-Geral de Justiça a abertura de uma investigação criminal.

“Nós estamos tendo muito óbito evitável por falta de leito de UTI.
O HGP vive lotado, tem pacientes que vêm de Paraíso, pacientes que vêm de Miracema, não conseguem leito no HGP.
São encaminhados para hospitais privados que têm credenciamento com o estado, e quando chegam lá, o hospital cobra, ao invés de regular o paciente para o leito SUS.
Isso precisa ser apurado. Encaminhamos um expediente ao procurador-geral de Justiça a fim de que o Ministério Público tome as medidas cabíveis, criminais, para identificar quem são os responsáveis por essa omissão”, comentou o defensor.